No mês de junho tivemos a divulgação da pesquisa de perdas no varejo da Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (ABRAPPE). Os resultados não foram os melhores e um ponto preocupante foi o aumento no índice de perdas: passou de 1,29% ou R$ 19,58 Bilhões para 1,38% que representa R$ 21,46 Bilhões. Precisamos falar sobre este índice e sobre o quanto ainda estamos atrás em matéria de combate a furtos e perdas para que possamos planejar mudanças e evoluções no mercado do varejo.
Recentemente escrevi um artigo em meu LinkedIn com o tema “O mercado paralelo é o seu pior concorrente?”. Percebi que precisava abordar um pouco mais o assunto, mas desta vez com uma pegada mais técnica. Observando os índices revelados pela pesquisa vemos que, somados, os furtos internos e externos representam 31% no montante das perdas, ou seja, R$ 6,65 Bilhões. Por isso, vamos falar um pouco sobre o quanto o nosso Brasil está atrasado em relação aos crimes no varejo.
Há alguns anos, mais precisamente em 2010, o varejo americano teve um prejuízo de US$ 37 bilhões. Na época, foram rotulados como “crimes organizados no varejo”, nome dado pelo FBI que criou um departamento chamado “programa de roubo organizado no varejo” (sigla em inglês ORTP). O FBI criou um banco de dados composto por varejistas e departamentos de polícia de várias cidades, para troca de informações via internet que auxiliassem na prevenção de roubos e localização dos bens surripiados. Poucos meses depois existiam 46 mil lojas cadastradas.
A questão é que o mercado cinza ou paralelo é quem recepta e vende esses produtos furtados em nossos varejistas. A economia cinza consegue se auto sustentar, pagando trabalhadores por baixo dos panos, sem recolher imposto de renda ou qualquer contribuição. Atitudes como esta reduzem a quantidade de vagas formais porque as empresas acabam demitindo funcionários por conta de perdas que geram impactos negativos. A primeira coisa que o empresário faz quando nota prejuízos é reduzir a equipe entre várias outras ações posteriores para tentar equalizar suas receitas e despesas.
Abaixo mostro um exemplo de como funciona o mercado cinza:
Na imagem acima, vemos uma ação na qual a equipe de prevenção de perdas da empresa conseguiu identificar e desmontou uma quadrilha que atuava em toda grande Recife. Já na foto abaixo vemos um mercado informal no centro da cidade de Recife, o chamado mercado cinza. Como podemos ver, vários dos produtos expostos também estão na foto acima. Esta é uma cena que está se tornando comum não só na capital, mas também na maioria das cidades e em muitos estados do Brasil.
A mente do criminoso habitual funciona como a de um comerciante, ou seja, busca o lucro. Muitas vezes ele mesmo faz uma análise de riscos, sabia? Analisa qual o risco de ser pego e até mesmo o grau de probabilidade de cumprir pena caso pego. Estes furtantes não são chamados de profissionais à toa.
Outro fator importante que impacta nos números do varejo é a falta de registro das ocorrências. Poucas são as empresas que registram e lavram boletim de ocorrência, ponto que impacta diretamente nas tratativas dos órgãos responsáveis. Quando a polícia não é acionada, gera o que chamamos de “cifra negra”. O que tem influenciado no aumento de crimes no varejo é a impunidade e o fato de tratarem os criminosos como se fossem apenas vítimas da sociedade. Junto a isto temos a grande dificuldade de diferenciar quem é criminoso habitual de quem é criminoso eventual.
Tendo essa visão e sabendo de todas as dificuldades, sejam internas ou externas, existem possibilidades de o varejista conseguir reduzir seus furtos? Claro que sim! Irei relatar algumas abaixo:
E destaco também um fator importante: só existe mercado paralelo por existir demanda. Se a população parar de comprar em locais ilegais, a demanda irá reduzir. Para alcançarmos um melhor lugar para o varejo, precisamos de esforços em conjunto.
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